Comissão da Verdade da Câmara Municipal de Florianópolis realizou 1ª sessão

Notícias 11/12/2014

“Eu sofri muito, muito em 1964. Fui despedido por ser politizado, por ter uma ideologia diferente, e ser negro naquela época...”  Foi com o depoimento emocionado do senhor Augusto Luiz Fernandes que teve início, dia 11 de dezembro, a 1ª sessão da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de Florianópolis, presidida pelo vereador Lino Peres.

Importante trabalho que vem complementar a atuação da Comissão Estadual da Verdade, representado no evento por Marize Lippel (que também representava o Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça), a criação comissão foi uma luta do mandato para trazer luz aos atos perpetrados contra os direitos humanos na capital de Santa Catarina. O ato de hoje no Plenarinho da Câmara foi uma oitiva que deu voz ao senhor Augusto e também a Aimberê Machado, preso em 1964 por ser líder estudantil que apoiava o governo de João Goulart. Ele ficou dois meses encarcerado, enquanto a Polícia Militar invadia sua casa, aterrorizando sua mãe, para apreender objetos pessoais e livros de Marx e Che Guevara.  

Seu Augusto era carteiro em Florianópolis na época do golpe, e também simpatizava com governos de esquerda e com a visão comunista de mundo – apesar de nunca ter tido ligações com alguma organização política. Exonerado sumariamente, sem explicações e depois de passar por um humilhante interrogatório, ele ficou desempregado por cinco anos. “Ser negro e comunista naquela época era horrível, muito preconceito”, contou. Ele chorou muito durante a sessão.

Apesar de não terem sofrido torturas físicas, ficou claro que as sequelas psicológicas ainda existem na vida de Augusto e Aimberê.  Lembravam com nitidez a humilhação e a injustiça que sofreram. A ferida ainda está aberta. Este trabalho tem trazido à tona diversos casos então desconhecidos de afronta aos direitos humanos na Ditadura. Nomes de torturadores e de pessoas que colaboraram com o regime surgem a cada dia. É uma luta já vem de lutas antigas iniciadas com o Tortura Nunca Mais e outros movimentos de apurar os atos que violentaram os Direitos Humanos na obscura época da Ditadura.

No dia 30 de outubro, a inauguração do Monumento ao Nunca Mais na frente da Câmara Municipal de Florianópolis, foi outro importante passo neste processo. O trabalho continuará em busca da verdade. 


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