MARCHA DA NEGRITUDE CATARINENSE: ATO REÚNE MAIS DE MIL PESSOAS EM FLORIANÓPOLIS

Notícias 18/07/2016

A população negra catarinense tomou as ruas de Florianópolis, na primeira Marcha da Negritude Catarinense, neste sábado (16 de julho), para reafirmar: "Santa Catarina Também é Negra". Contra os desmanches das políticas públicas de direitos humanos com recortes étnicos e o governo golpista instalado no país, cerca de mil pessoas marcharam, unidas, pelo Centro da Capital.

Nem mesmo a chuva arrefeceu os ânimos. "Não podemos escolher dia para marchar, porque eles não escolhem o dia para nos massacrar", bradou um dos manifestantes ao longo da passeata. "Pode chover, pode molhar, a negritude é que vai marchar", era um dos gritos que ecoavam na Escadaria do Rosário, ainda na concentração para o ato. "Povo negro unido, povo negro forte, que não teme a luta, que não teme a morte" - assim a marcha teve início, por volta das 10h.


Para o vereador e professor Lino Peres, o ato foi fundamental para dar visibilidade à causa negra e aos movimentos populares. "O povo negro está voltando às ruas para lutar por seus direitos e não permitir nenhum retrocesso no que foi conquistado nos últimos anos como políticas públicas agora ameaçadas pelo governo ilegítimo de Michel Temer. A única forma para isso está nas ruas, como nos anos 1980 e 1990, principalmente na Primeira Marcha de Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida, realizada em novembro de 1995, ato massivo em Brasília que denunciou a ausência de políticas públicas voltadas para a população negra", afirmou.


Se no Brasil cerca de 53% da população é negra, em Santa Catarina esse número é de aproximadamente 17%, fato que torna a luta no Estado, notoriamente conservador, ainda mais essencial. "Onde há racismo, não pode haver justiça social", comentou um dos manifestantes, ressaltando que a população negra ainda está alijada dos melhores postos de trabalho e dos espaços de poder.


Para Edson Camargo, presidente da Associação de Remanescentes dos Quilombos e Invernada dos Negros, da cidade de Campos Novos, este é o momento de garantir os direitos conquistados pela mobilização popular nas últimas décadas, com apoio dos governos Lula e Dilma. "Nenhum direito a menos! Precisamos das políticas públicas, lutar contra o golpe e tudo que vem se desenhando na política nacional. Estamos unidos e vamos nos unir cada vez mais", disse.


Depois de uma intervenção artística do ator e produtor cultural da prefeitura de Florianópolis, J. B. Costa, resgatando a memória do poeta Cruz e Sousa, a performer e pesquisadora Roberta Lira tomou a palavra. "O povo preto tem que estar junto, já acabaram as guerras das tribos. Para branco, somos todos pretos. Então, estamos aqui porque somos pretos e porque ainda existe racismo nesse país. Salve todos os povos, salve nossa ancestralidade, salve o nosso axé", afirmou.


Depois de percorrer as principais ruas do centro de Florianópolis, a marcha se dirigiu até o Memorial Miramar, onde músicos, capoeiristas e artistas encerraram o ato com as últimas falas e manifestações culturais em defesa da população negra.

Esta mobilização deverá continuar e de forma permanente até que o governo ilegítimo de Temer reinstale a SEPPIR (Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial), na categoria de Ministério ou Secretaria Especial, com as Secretarias da Mulher e Juventude e dos Direitos Humanos, transferidas e com funções restringidas ao novo Ministério da Justiça e Cidadania.


Vários órgãos foram extintos ou perderam a função original como a Secretaria  de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), além da perda da política de integração e transversalidade entre as diversas Secretarias. A justificativa do governo Temer é cortar custos, o que revela uma atitude  profundamente autoritária e somente financeira, pois ataca um conjunto de políticas de inclusão social e racial, que são, além de diminuir a secular ausência de ações contra a desigualdade, simbólicas como resultado de lutas do movimento negro e social por décadas.


Somente nas ruas é que o povo brasileiro, e em especial o povo negro, pode barrar o retrocesso em curso implementado por esse governo golpista de Temer, no que se conquistou com tanta luta, principalmente nos últimos 13 anos.

 

 

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