NÃO SILENCIAI OS TERREIROS

Notícias 13/07/2015

O Fórum das Religiões de Matriz Africana denunciou, em reunião no Ministério Público, o cerceamento à liberdade religiosa dos terreiros em Florianópolis, na terça-feira, 7 de julho. São mais de 30 terreiros multados por não possuírem permissão para emitir ruídos. Os terreiros foram fundados em toda a cidade antes da ascensão das igrejas neopetencostais e são anteriores à urbanização desenfreada, incluindo moradias e estabelecimentos comerciais. É um verdadeiro absurdo que os terreiros continuem a ser vistos pelo poder público municipal como se fossem bares e restaurantes ou simples negócios, sem história, sem significado histórico-cultural! O povo do terreiro já não suporta mais ver suas casas fechadas e todos os Filhos de Santo e Mães de Santo desesperados, sem poder receber ou prestar atendimento espiritual. Querem esmagar toda uma cultura com a força bruta da lei eurocêntrica, que ignora a culturalidade de todo um povo. Onde já se viu cobrar dos terreiros multas de milhares de reais ou obrigá-los a ter isolamento acústico? São religiões que se constituem no contato com a natureza e não existem sem a preservação dos elementos, não admitindo seu trancafiamento e encarceramento em caixas. Em breve, a perseguição pode se intensificar, quando as autoridades começarem a limitar onde pode e onde não pode ter terreiro, conforme os zoneamentos, delimitados sem que o Povo Santo fosse sequer escutados. No Brasil, é realizada uma denúncia de intolerância religiosa a cada três horas: como pode o poder público estar dando asas ao preconceito, atendendo a denúncias anônimas de pessoas que ficam vigiando os terreiros, esperando sua abertura para acionar a polícia, inclusive, durante as primeiras horas da tarde? Em comparação, eventos comerciais, como o Folianópolis, continuam sem nos deixar dormir. É fato que o poder público pode negociar uma saída, como ele sempre faz junto aos empresários, por exemplo, mas eles fecharam as porta várias vezes ao Fórum das Religiões de Matriz Africana. Não é à toa que os cerceados estão recorrendo ao Ministério Público.
Todos que lutam pela liberdade precisam se preparar para barrar esta "política" violenta de intimidação e que submete, com ideias e valores externos, toda uma cultura. Já passou o tempo do medo. Esta culturalidade não vai desaparecer, por mais que seja atacada e empurrada para longe.
Os procuradores escutaram a história do Povo Santo e se mostraram menos ignorantes em relação à visão de mundo dos representantes. Os doutores assimilaram a lição de que o bom tamboreiro sabe exatamente a intensidade do som do atabaque necessária para chamar uma entidade. Eles não precisam de carro de som, nem de megafone: os ancestrais evocavam com singelas palmas.


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