Transporte coletivo volta em meio ao aumento no número de casos do novo coronavírus em Florianópolis

Notícias 15/06/2020

Quando, em 2 de junho, a imprensa local noticiou a volta do transporte coletivo em Florianópolis, a informação era que havia 687 casos confirmados e 7 óbitos segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Neste domingo (14), o Covidômetro da Prefeitura de Florianópolis registrava 1.069 casos e 10 óbitos, ou seja, um aumento de 64% no número de casos. Como poderão os ônibus voltar a circular em 17 de junho, como anunciou a Prefeitura?

Quadro geral

Dos 1.069 casos confirmados, mais da metade, 660, são de pessoas de 20 a 49 anos, ou seja, 61,74 % do total. O maior número de casos, 268, está especificamente na faixa entre 30 a 39 anos, 25% do total de casos.

No site da Prefeitura, ainda não há Boletim Epidemiológico ou Nota Técnica específica sobre o novo coronavírus. Mas os dados do Covidômetro já revelam números importantes em relação às populações mais vulneráveis.

Monte Cristo está em 3º lugar na contaminação por covid-19

Temos acompanhado a curva de crescimento com especial cuidado em relação às populações mais vulneráveis na capital nos quesitos moradia, saneamento e saúde. A preocupação é com a necessidade de acompanhamento e rápido acesso dos moradores à rede pública de saúde, especialmente postos, reivindicação do Ato realizado dia 12 de junho, com caminhada da UFSC até o Morro do Mocotó, no Centro. Nos casos do Monte Cristo e do Mont Serrat, por exemplo, os números evidenciam essa necessidade.

Um dado que chama a atenção é o elevado número de casos no bairro Monte Cristo e no Mont Serrat, áreas onde há populações de baixa renda, sendo que, no Mont Serrat, localizado no Maciço do Morro da Cruz, a análise é possível porque a Prefeitura totalizou os casos dali separados dos do Centro.

O Monte Cristo é o terceiro bairro com maior número de casos em Florianópolis, ficando atrás apenas do Centro e da Agronômica. São 52 casos confirmados, número próximo ao de Ingleses (47 casos). Ocorre que Ingleses tem cerca de 24,6 mil habitantes, e o Monte Cristo, 14,5 mil habitantes, de acordo com dados de 2015 no site da Prefeitura e que devem ser maiores. Outra dificuldade ali é o isolamento social, pois as moradias são pequenas, próximas e com índice de moradores maior do que a média do município.

O Monte Cristo chama a atenção ainda pela forte aceleração em pouco tempo: o dia 22/5 mostra uma aceleração de confirmados de 900%, com 10 casos novos naquela semana. Outro dado: 28 dos 52 casos, mais da metade, são de pessoas jovens, na faixa dos 20 aos 39 anos.

No Mont Serrat, onde vivem cerca de 11 mil pessoas, são 28 casos confirmados de covid-19. Outro dado: o maior número de casos, 9, são de pessoas jovens, na faixa dos 20 aos 29 anos. Esta localidade ocupa o décimo lugar na classificação de 48 regiões analisadas no Covidômetro.

Chama a atenção que as regiões que têm menos casos confirmados são as de menor densidade populacional ou com maior renda.

Mesmo sem o detalhamento que um Boletim Epidemiológico ofereceria, é possível afirmar que 1) há um número expressivo de casos em pelo menos duas regiões onde vivem populações de baixa renda, o Monte Cristo e o Mont Serrat, e 2) a população predominantemente adoecida em ambos é de jovens e adultos abaixo dos 50 anos.

A Prefeitura informa que os aumentos no Monte Cristo e outras comunidades têm relação com surtos entre trabalhadores de supermercados, questão gravíssima, e que, nos casos positivos, os contatos próximos são testados, mesmo que sem sintomas, para se verificar a necessidade de rápido isolamento se há confirmação de contaminação. O fato é que esses trabalhadores adoeceram em seus locais de trabalho por falta de cuidado dos empregadores, podendo transmitir o vírus aos familiares.

Preocupa-nos a possibilidade de liberação do transporte coletivo porque a contaminação, pelos dados que vimos no Covidômetro, é predominante nas faixas etárias de 20 a 49 anos, justamente as que irão em massa, dentro dos ônibus, voltar a trabalhar.  E, se vindas de bairros onde a maioria da população é de baixa renda, terão dificuldade de se isolar se forem contaminadas, até pela precariedade e inadequação das moradias.

Além disso, o cenário aqui exposto não considera a situação dos municípios da Área Conurbada com São José, Biguaçu e Palhoça. Esses fatores combinados, com uma curva ascendente de casos confirmados, oferecem qual margem de segurança para a liberação do transporte coletivo? Gean precisa responder.

LEIA ABAIXO A INTRODUÇÃO DO DOCUMENTO DA FRENTE DE ESQUERDA SOBRE O DESCONFINAMENTO ENTREGUE AO PREFEITO GEAN LOUREIRO

Deve se reconhecer o acerto das medidas de isolamento social que vem sendo tomadas em várias cidades brasileiras e pela prefeitura de Florianópolis,  medida comprovada pela OMS como a mais eficaz e que freia a evolução da covid-19 e que permite que o Estado tome medidas de ampliação de UTI e infraestrutura que acolha as populações afetadas. Portanto, manter e reforçar o isolamento social é proteger a vida e é esta linha de ação que  conta com o apoio de grande parte de epidemiologistas, pesquisadores da área médica e  institutos de pesquisa, como a Fiocruz.  E esta tem sido a compreensão e ação dos partidos progressistas em todo o país e orientado grande parte ou quase a totalidade dos governadores e municípios.

Como o mandato tem alertado, desde o  início da pandemia,  as famílias nas periferias – onde as condições sanitárias, econômicas e de saúde são reconhecidamente frágeis – são as que sofrem com os impactos da pandemia e para os quais a atenção do poder público deve ser com investimentos prioritários de infraestrutura  na área do saneamento (implantação de módulos sanitários, reforma de caixa d’água  etc). No entanto, destacamos que não basta somente o isolamento social, se mais de 1/3 das famílias vivem em dormitórios acima de 3 pessoas e grande parte delas é obrigada a trabalhar pelos atrasos do auxílio emergencial do governo federal.   

Devem-se empreender esforços que ampliem as casas, se adote o aluguel social ou reserva de vagas em hotéis para pessoas atingidas pela covid-19, como a prefeitura está fazendo com a população em situação de rua. Vale lembrar que a atual gestão municipal ou deixou de investir – como na política habitacional – ou vem dando recursos para intermediários, como nas Organizações Sociais na área da saúde. Isso só piorou a situação já agravada pela Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos por 20 anos.

No entanto, com orientação profundamente equivocada por parte principalmente de Bolsonaro de flexibilizar as medidas restritivas de isolamento social e da pressão do setor empresarial de retorno à normalidade em várias cidades brasileiras, e particularmente aqui com o governador Moisés adotando medidas de afrouxamento do isolamento social com a liberalização gradual do comércio e de atividades não essenciais, devemos nos posicionar para que as medidas de desconfinamento sejam aplicadas de forma rigorosa, obedecendo o protocolo recomendado da área da saúde e da OMS, sob pena de se ter que retornar medidas mais severas posteriormente, caso a covid-19 se alastre ainda mais. Alertamos para o alastramento da pandemia na oeste e planalto catarinense e o fato de que ela se espalha rapidamente.

Dever-se-ia manter o isolamento social, na medida em que a curva do comportamento desta pandemia tem aumentado, conforme apontamos nos estudos acima, o que aponta para a manutenção da política de controle severo relacionado às medidas restritivas.

 


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